Carro 1000
Pela semelhança física, as moças parecem irmãs.
E pela anotação no verso, certamente feita por uma delas, sabemos que são italianas, que a cena é de 1950 e que a foto foi enviada como lembrança para os pais.
O resto de história se perdeu. A imagem é cheia de enigmas: quem são as duas italianas, que endereço é esse em que elas estão, e até mesmo se o carro é delas ou se estava estacionado ali por acaso na hora da foto.
Mas pra não dizer que eu não resolvi nenhum enigma, pelo menos um deles eu decifrei: o que significa essa numeração tão curiosa na placa do carro: “10-00”.
Na verdade, não foi difícil: encontrei a maior parte da resposta neste texto, publicado em 2009 pelo Ralph Giesbrecht.
Pelo sistema de emplacamento vigente na época, os carros registrados em cada estado recebiam placas com números sequenciais: o primeiro a ser emplacado recebeu a placa “1”, o segundo ganhou a placa “2”, e assim por diante. Mas os números, para facilitar a leitura à distância, eram separados de dois em dois algarismos. Desta forma, a centésima placa recebeu a inscrição “1-00”. A de número 941, por exemplo, acabou ficando “9-41”.
A placa número 59.998 era “5-99-98”. Esta, segundo o Ralph conta, era do pai dele.
E a milésima placa recebeu um “10-00”. Justamente a da foto.
O que não significa que o carro da foto tenha sido o milésimo a ser emplacado em São Paulo. Ele é muito novo pra isso. O que ocorria é que, ao contrário de hoje, as placas não estavam vinculadas ao carro, mas ao proprietário. Quando alguém trocava de carro, a mesma placa do carro velho passava para o novo. Por isso alguns carros nos anos 50, mesmo não sendo tão velhos, tinham placas com número baixo. É o caso deste.
Talvez não seja muito difícil descobrir quem era o dono da placa 1000. Mas eu já cumpri minha cota de descobertas, e deixo isso para quem quiser ir atrás.
Atualização em 20 de janeiro: O João José Basso, leitor do blog, acaba de resolver mais um dos enigmas da foto. Ele reconheceu o local exato onde ela foi tirada. E não é um lugar qualquer: trata-se do edifício Columbus, demolido em 1971, sobre o qual eu já havia escrito em 2013. Para matar qualquer dúvida de que o prédio é esse mesmo, basta comparar a foto com as que aparecem neste artigo da professora Maria Lúcia Bressan Pinheiro: https://goo.gl/E2jmgZ. Obrigado, João, e parabéns pela memória fotográfica!
Atualização em 22 de janeiro: Aos poucos os enigmas vão se resolvendo: já sabemos de quem é o carro! Desta vez a novidade vem do próprio Ralph Giesbrecht, citado no post, que me escreveu há pouco. Ele tem a lista das placas registradas em São Paulo em 1940, e verificou que a de número 1000, ou 10-00, pertencia um tal João Giannini. E mais: o automóvel emplacado com ela em 1940 era um Packard. Como é a mesma marca do da foto, é bem provável que seja o mesmo carro, visto aqui dez anos depois. Obrigado, Ralph!
Mais uma vez, muito obrigada querido!, só posso te desejar a saú
de e muitas alegrias na sua vida, vc é muito especial..
Republicou isso em iddeia cultura e pesquisae comentado:
Alguém se dispõe a encontrar o nome do proprietário?
Uma hipotese: a entrada do prédio tem uma incrível semelhança com a do extinto Edificio Columbus do arquiteto Rino Levi, que ficava na Brigadeiro Luiz Antonio. As construçoes vistas ä direita podem ser da propria Brigadeiro, após a rua Maria Paula.
Vc tem razão, João!
Comparando a foto com esta outra, do Columbus, dá pra ver que se trata da entrada do prédio.
Estou fazendo uma atualização no texto. Que olho você tem!
Blza. Vi que o edificio erá de alto estilo e.quando verifiquei que na porta de vidro tinha a gravaçao de uma caravela opacada, me levou ao nome proprio do navegador, que, pressuponho, o arquiteto usou para denominar sua obra. Vlw.
O automovel é um Packard one-eighty,considerado um classico nos tempos atuais
Obrigado, Emilio. Eu estava mesmo curioso para saber isso! 🙂
Estou adorando seu blog!!!