A vila e o vale

A Vila Itororó está na moda. Transformada em centro cultural, ela foi aberta ao público há pouco mais de um mês. É o resultado de um longo processo, que envolveu o tombamento pelo Conpresp em 2002 e pelo Condephaat em 2005, a desapropriação em 2010, a luta dos moradores para ficar, a remoção deles em 2011, e um minucioso projeto de restauração que ainda não foi concluído e provavelmente nunca será. 

Compartilho com vocês estas fotos, que foram feitas muito provavelmente na década de 1940. São de um tempo em que a vila não estava na moda. Ao contrário: sua fase áurea já tinha passado, e ela começava a se encortiçar. Foi nesta época que se consolidou sua vocação para local de moradia popular.

Não faço ideia de quem fez as fotos, nem para que, mas gosto de imaginar um possível caminho que o fotógrafo percorreu. Vejo-o chegando na vila por cima, pela rua Martiniano de Carvalho, de onde tirou a primeira foto:

Descendo o escadão, ele chegou aos pés das enormes colunas que sustentam a casa principal, e que em outros tempos também foram do Teatro São José. Impossível não notá-las, tamanha sua imponência e desproporção. Aqui ele tira mais duas fotos.

Seguindo o caminho de paralelepípedos, nosso fotógrafo não tardou a alcançar a outra ponta, na rua Maestro Cardim. Ali, uma segunda presença imponente chamou sua atenção: a vila acabava em uma gigantesca área verde, com direito a campo de futebol. Era o Vale do Itororó, parque urbano improvisado que se perdeu anos depois, com a abertura da avenida 23 de Maio.

Um parque anexo. Taí uma coisa que projeto nenhum de restauração vai devolver à Vila Itororó.

A foto atual, que abre o post, é da Secretaria Municipal da Cultura (imagem divulgação). As demais são parte de um conjunto de 15 fotos da Vila Itororó e seu entorno, encontrado à venda sem informações quanto à data ou autoria. Arrisco que sejam de meados da década de 1940.

2 comentários
  1. Fabio Spavieri disse:

    Que bom te ver escrevendo de novo!

  2. Roberto Mateus disse:

    Parabéns pelo texto. Concordo, a conclusão da restauração dificilmente sairá do papel e essa “inauguração” dos escombros horrorosos com luzes bonitas é o símbolo do fracasso da memória nacional e paulistana.

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