O post de hoje surgiu de uma contribuição muito bacana do Felipe Reis, um leitor do blog.
O Felipe conta que um dia desses estava andando pela rua, quando reparou em um mendigo que mexia em um álbum de fotos antigas. Resolveu se aproximar, puxou conversa e ficou sabendo que o homem tinha acabado de achar o álbum no lixo. Acabou ganhando de presente algumas das fotos. São essas aí embaixo, todas do final dos anos 40.
Não foi preciso pesquisar muito para perceber que quatro das cinco fotos são do Tatuapé. Elas mostram a Duperial, uma antiga indústria química que, ao que consta, foi a primeira fábrica construída no bairro. Ela funcionou entre 1928 e 1978, na rua Azevedo Soares 656. Uma das fotos é de uma festa dos funcionários no interior da fábrica, e tem uma anotação no verso: é a despedida do Sr. Herculano, em janeiro de 1949.
A quinta foto, evidentemente, não é da Duperial. Ela mostra uma moça simpática posando na arquibancada do Pacaembu, pelo jeito aguardando o início do jogo. Não sabemos quem é ela, nem qual o seu vínculo com a fábrica ou com o tal Sr. Herculano. Essa parte da história não estava nas mãos do mendigo…
No terreno da fábrica, hoje existe um condomínio de classe média alta, desses com várias torres, muro alto, forte vigilância e nome pretensiosíssimo: “Duccio di Buoninsegna”.
De acordo com uma pesquisa recente feita por Thaís Coutinho Milan Sartori, aluna do Instituto Mauá de Tecnologia, o terreno tinha um grande poço onde a empresa foi jogando lixo industrial e resíduos tóxicos ao longo dos seus muitos anos de funcionamento. O condomínio foi construído sem maiores precauções, e hoje as famílias do Duccio di Buoninsegna não sabem que moram em cima desse lixo. A foto atual é do Google Street View.
Atualização em 7 de outubro de 2015: Acrescento hoje mais algumas fotos, enviadas por outro leitor, o Emilio Lucchi.
O Emilio tem um importante vínculo com a fábrica: entre 1964 e 1978, o pai dele era funcionário da empresa e a família morava lá dentro. Nesta época o nome na entrada não era mais Duperial, mas ICI, e a fábrica propriamente dita já não funcionava: havia ali apenas um laboratório e um depósito de produtos para tinturaria.
A primeira foto é da rua Azevedo Soares, com a empresa à esquerda, e a segunda mostra o laboratório que ficava nos limites do terreno (sua lateral encostava no fundo das casas da rua Guatacaba).
Mas as fotos mais interessantes, na minha opinião, são as coloridas. As duas primeiras mostram a casa onde o Emilio morou, que ficava dentro da fábrica mas, ao que parece, já estava lá antes dela: o Emilio desconfia que ela tenha pertencido à família Azevedo Soares, proprietária original da chácara onde a fábrica se instalou em 1928. E a terceira, tirada de dentro para fora, mostra as paineiras da vizinhança: elas ficavam no número 788 da Azevedo Soares, onde hoje existe (é claro) mais um condomínio…
No email que enviou com as fotos, o Emílio comenta: “Hoje, como se sabe, nada mais resta aí, nem as casas, nem as gigantescas paineiras pra lá de cinquentenárias, nem o pomar, nem as demais espécies de árvores. Esse lugar era realmente muito bonito, hoje não é mais, ficou na lembrança. Mas quem sabe não apareça alguém do laboratório para contar mais histórias, ou alguém que saiba a origem dessa casa”.
Vamos torcer para que apareça. Enquanto isso, obrigado ao Emilio pela generosidade de compartilhar suas fotos e lembranças!